Conhecimento e afeto podem transformar gerações e criar oportunidades?

Foi ao lado da minha avó paterna e ao redor de um fogão que vivi as minhas primeiras experiencias em uma cozinha.

Recordo que o arroz e o feijão não faltavam em nossa mesa e sempre preparava do mesmo jeito, ao mesmo tempo que parecia uma atividade rotineira, era um momento onde ela centralizava sua atenção e demonstrava seu carinho por nós.

Lembro com muita nitidez a forma como separava os ingredientes e os utensílios antes da preparação dos alimentos. Fecho os olhos e posso reviver aquele momento.

Para o preparo do feijão – Os grãos eram mantidos em uma lata aberta dentro do armário, onde se encontrava uma “caneca” que utilizava como medida padrão. Me recordo que retirava duas vezes a mesma medida, levava sobre a mesa e retirava atentamente as sujidades, lavava, deixava de remolho, cozinhava, resfriava e armazenava na geladeira. Essa pratica ocorria uma vez por semana, porém refogava somente a quantidade que seria servida no dia. Sempre explicava que o feijão refogado mantido por muitos dias na geladeira, podia azedar com maior facilidade e que o caldo ficava escuro. Para o refogado não podiam faltar o alho, óleo e sal, além do toque especial com folhas de louro, o cheiro do alho com o perfume do louro despertava a fome de qualquer um.

Para o preparo do arroz –  Também mantinha dentro do armário em uma lata, separava uma quantidade para o consumo do dia e colocava em uma peneira bem fina, observava se não havia sujidades: lavava em água corrente. Comentava que era precisa lavar bem até que a água ficasse transparente. Deixava o arroz na peneira até o momento do preparo, aquecia a água e cortava os ingredientes (a cebola e a salsinha) milimetricamente. Para o refogado acrescentava o óleo, a cebola e depois de dourada acrescentava o arroz e o sal. Recordo que ficava um bom tempo mexendo, dizia que era preciso refogar bem, para que o arroz não ficasse empapado e posteriormente acrescentava a água em ebulição e ao final salsa picada. A panela ficava fechada em temperatura alta e antes de secar toda a água diminuía a temperatura. O cheiro era de comida fresca, ou melhor, comida de avó. A infância é um período onde a curiosidade e a vontade de ajudar estão latentes, não sendo diferente comigo. Desde pequena pedia à minha avó para ajudar e ela me colocava na cadeira, apoiada em uma mesa, separava uma tabua e uma faca e me deixava ajudando com “o corte da salsa”. Para mim era uma verdadeira festa e alegria, para a minha avó nem sempre. Ehehehehe No entanto, até os meus 20 anos não cozinhava com frequência, mas recordo que sempre em casa não podia faltar uma comida simples e saborosa. Minha mãe e minha avó tinham prazer ao cozinhar e até hoje mantemos em nossa memória o sabor do tempero delas. Aprendi a comer todos os tipos de verduras principalmente as mais amargas como almeirão e catalonia… elas não dispensavam nem o jiló.

O tempo passou e fui para a universidade optando pela nutrição, porque alimentar-se e nutrir-se para mim tinham fortes significados.

Minha primeira experiencia profissional depois de graduada. Foi gerenciar um restaurante para 200 pessoas e, foi ao redor de uma equipe profissional dentro de uma cozinha que construí um novo sentido.

Foram 15 anos me dedicando ao planejamento de refeições do cardápio ao prato, sempre valorizando os alimentos frescos, buscando a variedade das preparações e auxiliando no desenvolvimento de novos sabores.

Não parei por ai! Ao mesmo tempo me dedicava a área acadêmica, também relacionada a alimentação, seja dentro de uma sala de aula trabalhando no desenvolvimento de conceitos, como também em laboratório produzindo alimentos. Foram ao longo de 18 anos que tive a oportunidade de enriquecer meus conhecimentos em técnicas e práticas culinárias, passando a entender de forma mais cientifica as palavras da minha avó como por exemplo, o porquê refogar o arroz e tive a possibilidade de perceber a sabedoria que ela havia adquirido de forma empírica. E foi assim, ganhando conhecimento: trocando experiencias que cheguei a outro país e tive a oportunidade de criar um projeto chamado NUTRIPEQUES – cozinha motivacional para crianças com câncer. Essa proposta inovadora tinha por proposito incentivar mães e filhos a cozinharem juntos, Na verdade o que estava por detrás dessa ideia era a possibilidade de despertar o mesmo sentimento de afeto e gratidão que guardei ao cozinhar com minha avó.

Agora está nascendo um novo projeto: Kitchen Coaching que tem como missão, ajudar você a construir uma nova conexão com a comida e o ato de cozinhar.

Gostaria de propor um momento de reflexão

Acredito que você também tem histórias parecidas como a minha. Apesar de vivermos em “outros tempos” acredito que podemos extrair ótimos ensinamentos com essa história. Minha avó tinha a sabedoria não porque estudava, mas sim porque praticava diariamente:

Será que não devemos cozinhar mais e de maneira mais simples? “Antes de ir à cozinha, minha avó e minha mãe, já sabiam o que cozinhar, assim como já tinham todos os ingredientes”.

Como você costuma fazer em sua cozinha?

Você frequentemente tem habito de planear o que vai cozinhar?

Ao entrarem na cozinha, entravam conectas as atividades que iriam desempenhar. Você já vai para a cozinha pensando em sair?