Contexto Histórico

Pode-se dizer que o ato de cozinhar alimentos é uma das atividades mais antigas na nossa história. Desde que o homem passou a dominar o fogo e usá-lo no preparo de alimentos, o mesmo o levou a uma mudança no rumo da evolução humana. Primeiro, porque os alimentos cozidos proporcionaram mudanças significativas de ordem biológica aos seres humanos. Depois, porque ao estar ao redor de uma fogueira (cozinhando e compartilhando alimentos), passou a representar uma oportunidade de intercambio de experiencias despertando o inicio de um ato social.

Um Ato Social

Cozinhar, comer e beber juntos, são práticas que estão presentes em nosso estilo de vida (independente do contexto histórico-social), desde tempos imemoriais. Ao longo dos séculos reunir-se ao redor de uma mesa reforçava o poder, servia de local para tomada de decisões importantes, bem como, para celebrar grandes acontecimentos.

Atualidade

Nos dias atuais, pode-se perceber que a essência segue sendo a mesma. Seguramente cada um tem uma boa lembrança de uma reunião familiar ou de amigos ao redor de uma mesa farta de comida celebrando momentos especiais. Mas os benefícios vão além da celebração, estudos tem comprovado que a refeição em família ou com amigos melhora a relação pessoal, pois, ao compartilhar uma refeição aprende-se a arte da conversação e adquirem-se novos hábitos como: repartir, ouvir, ceder a vez e administrar diferenças sem ofender. Assim como, se realizar uma refeição juntos tem seus benefícios, o ato de cozinhar também traz benefícios. Um deles é a contribuição com o bom estado nutricional, pois ao preparar alimentos nos propicia fazer uma melhor escolha dos mesmos (qualidade, quantidade e variedade).

Cozinhar também gera outras oportunidades

  • Diminuir o desperdício de alimentos ao porcionar adequadamente o alimento que será feito levando em consideração a quantidade e tamanho do apetite dos comensais e aproveitando o alimento ao máximo (casca, folhas, etc.) Assim como, aproveitar as sobras em outras preparações;
  • Reduzir o impacto ambiental através da diminuição e/ou eliminação do uso de embalagens plásticas usadas para acondicionar alimentos processados ou ultra-processados;
  • Melhorar a criatividade o que contribui na criação de refeições mais variadas;
  • Reviver bons sentimentos ao reproduzir uma receita de família;
  • Ajudar no aprimoramento das técnicas culinárias, pois não há outra forma melhor que praticar para aprender.

Cozinhar e Comer Juntos

Representam momentos de prazer, assim como, de desenvolvimento pessoal e social. No entanto, a partir dos anos de 1970, constantes mudanças socioeconômicas e demográficas (em todas as regiões do mundo) vem contribuindo com alterações na composição familiar, na participação da mulher no mercado de trabalho e na urbanização. Estes fatos têm contribuído com a desconexão dos alimentos e, consequentemente, provocando um afastamento dos ciclos familiares e de amigos. Também, estudos comprovam que o aumento de doenças como obesidade, diabetes, pressão alta e problemas cardíacos tem relação direta com a alimentação inadequada em um ambiente conturbado.

Hoje em dia uma das frases que mais tenho ouvido ao conversar sobre cozinhar é “não tenho tempo”. Posso afirmar que essa ideia não só bateu à porta de muitas cozinhas, como já entrou e tornou-se critério orientativo nas decisões relativas à escolha de alimentos. Dito de outra maneira, a escolha passou a estar focada em tempo e praticidade, e para atender a essa necessidade, começou-se a substituir os alimentos frescos e minimamente processados por alimentos prontos, dispensando etapas de pré-preparo e preparo, optando-se apenas pela etapa de aquecimento.

Estamos definitivamente diante de um grande desafio. Porém, nada está perdido! Apesar do atual distanciamento do ato de cozinhar, podemos notar reações em todas as partes. Vemos cada vez mais movimentos a favor da comida surgindo em: pesquisas científicas nesta área e inúmeros programas relacionados à comida distribuídos nos vários canais de comunicação (TV aberta, canais pagos, Youtube®, etc.) · Livros e publicações (revistas, internet, etc).

O Que Fazer?

É preciso rever o papel que as práticas culinárias desempenham em um lar, entendendo que não são tarefas exclusivas da mulher e sim da família. A chave para essa nova transformação está em dividir tarefas, planejar antecipadamente, fazer melhores escolhas e não simplesmente terceirizar esse processo em sua integra. Parte destes princípios descritos podem ser também aplicados às pessoas que vivem sozinhas.

Por isso, é preciso viver o ato de cozinhar em suas distintas etapas, criar uma conexão de prazer com o alimento na cozinha, valorizar comidas mais frescas, mais regionais, de temporada. Aproximar-se e compartilhar da cozinha não como uma obrigação, mas como um momento para transmissão de valores y afetos.

Chamo este movimento de “Cozinhar Mais”. Ele, como enfatizado no início deste texto, proporciona vários benefícios a saúde e ao bem-estar pessoal e social.

Embarque nessa nova experiência!